Quando Tudo Não é o Bastante
Paulo e Joana completam 20 anos de casados. Reúnem para comemorar a família, filhos, amigos. Tudo e todos transpiram felicidade, sucesso e muito, muito amor.
Será isso mesmo?
Quando casaram, Paulo já estava em meio a uma carreira bem sucedida. Era elogiado, invejado. Sim, Joana conquistara um partidão! Sim, eles seriam felizes para sempre!
Não foi bem assim. Paulo continuou centrado em seu sucesso e Joana transferiu seus sonhos para filhos, viagens, compras. E em fazer sucesso entra as amigas! Tinham tudo o que poderia trazer-lhes segurança e paz.
Apesar da constante atividade da vida de ambos, havia entre eles união ou acomodação?
Quando dariam um basta na procura constante de projeção social? Quando veriam que a vida é breve e também traz dissabores e que, para enfrentá-los, é preciso algo além de conquistas materiais?
O primeiro choque ocorreu quando descobriram que o filho mais velho se envolvera com drogas. O segundo, quase simultâneo, quando Paulo sofreu um infarto.
O mundo vinha abaixo para aquela família. Não, eles não estavam preparados para enfrentar tudo aquilo. Como Joana explicaria às amigas a drogadicção do filho? Como iria lidar com culpas, medo, resistências do filho? Como lidaria com o marido, sempre ausente e o primeiro a procurar culpados?
Toda família entrou em crise, nada que lembrasse aquela suposta felicidade dos vinte anos de casamento. O infarto de Paulo trouxe o clímax da confusão. O que fazer, o que fazer?
O diálogo, que nunca houvera, não iria começar agora, sobretudo com a fragilidade da saúde do pai.
Quando e como uma família pode dialogar? O que falar, qual a importância de cada coisa a ser dita? O que não deve ser dito? Quando começar o diálogo?
Muitas vezes o nosso inconsciente encontra formas de expressar as nossas necessidades. A nossa fome de atenção, de carinho, as nossas raivas e tudo o que nos faltou ao longo da vida. São formas sempre simbólicas, paradoxais, ininteligíveis para o outro.
É necessário decodificar os desejos do inconsciente. Precisamos assumir o controle sobre as nossas carências mais antigas, que podem ser expressas, por exemplo, como uma busca desesperada e incansável de aprovação e sucesso, que desconhece o outro como nosso parceiro nas boas e más circunstâncias da vida, que nos faz ver as crises como oportunidades de crescimento e aprendizagem.
Sim, a vida pode nos tirar dos sonhos de felicidade eterna. E a psicoterapia pode ajudar a aproveitar momentos de dor para aprendermos muito do que não sabíamos até então.
Psicóloga Simone Mello Suruagy