E por falar em dieta...
“Ainda vou descobrir qual foi o regime milagroso que deu certo para o meu vizinho.”
Hoje a obesidade é um problema de saúde pública no Brasil maior que a desnutrição. Comer virou mercadoria e multiplicam as oportunidades de se obter aquele delicioso lanchinho rápido ou o mais variado banquete. Em todas as ruas tropeçamos em lojas cujo centro é a comida, de diversos estilos, para satisfazer todos os gostos e apetites. Como resistir a esse apelo mercadológico?
É toda uma indústria que se alimenta da compulsão alimentar e ao mesmo tempo em que temos essa excessiva disponibilidade de alimentos, as dietas se multiplicam.
São programas dietéticos extremamente restritivos que se sustentam na promessa de corpo magro investido de intensa carga emocional. A pessoa fantasia que alcançará incríveis metas em sua identidade como se ser magro fosse sinônimo de felicidade e prosperidade.
- “Quando eu emagrecer vou ser mais querida socialmente; vou conseguir um namorado (a); uma promoção ou um bom emprego.” Um imaginário do glamour através da fome ou de pequenas capsulas.
Vale até apelar para a dieta do ar de Madonna, onde contam que ela apenas cheira a comida do prato e não engole, tomando no lugar da refeição, uma mistura de agua e sal.
O controle do peso se tornou uma obsessão em nossos tempos levando a atitudes cada vez mais restritivas.
- “Dra. quero perder 20 kg! E o mais rápido possível. Se Demi Moore conseguiu chegar aos 43 kg, eu também consigo!”
E assim parte para uma dieta de 500 calorias diárias, depois de ter passado anos tomando toda a sorte de medicações, de laxante a anorexígenos. Dessa forma no passado, ela conseguia uma negociação entre seu desejo da magreza sem abandonar a boa mesa. Por muitos anos aquele comer sem culpa a satisfazia, numa sucessão de engorda-emagrece.
Mas ao acordar do sonho viu que estava muito além de seu “peso-ideal” e não se reconhecia mais na imagem refletida no espelho. Lutando contra uma depressão que já se anunciava, resolveu apelar para as dietas restritivas.
O que não contaram a ela é que onde existe privação o ser humano tentará compensar a falta preenchendo vorazmente o espaço vazio. E mesmo dando certo por algum tempo ela não conseguiria mais manter esse esquema tão rigoroso de dieta.
“Sempre que houver uma privação extrema estamos ativando o desejo pelo que se privou.”
E ai iniciou um ciclo vicioso: Quando não conseguia seguir o rigoroso esquema da dieta, deprimia e quanto mais deprimia, mais comia. Se sentia péssima, como se a cada passo que avançava apenas reafirmasse sua incapacidade. O mundo girava em torno da balança.
Vivemos cultura do sedentarismo e do imediatismo onde tudo gira em torno da mesa. Os hábitos sociais nos levam a comer sempre mais enquanto os avanços tecnológicos nos tornam cada vez mais sedentários. Uma equação cujo resultado é uma população de obesos.
Comer Muito + Mover Pouco = Engordar Muito
Aumentando a auto-estima e combatendo o sedentarismo:
1) Lidar com as expectativas irreais que projetou sobre o novo corpo:
2) Entender as ações comportamentais com as quais conseguirá modificar o estilo de vida que propicia o engordar e
3) Trabalhar as questões emocionais que estão vinculadas ao ganho de peso.
O perder peso deve ser um projeto cujo maior inimigo é o imediatismo. Uma jornada de um sistema triplo acompanhada de um profissional que o ajude a romper os esquemas emocionais e comportamentais arraigados.
A dieta então não mais se sobrecarrega de expectativas irreais e mente e corpo seguem juntos em um desenvolvimento contínuo.
Como nossa amiga que, após dois anos lidando com sua ansiedade, tendo alcançado novos projetos para sua vida não centradas na alimentação e superando sua expectativa negativa frente a sua capacidade, hoje além de seu peso desejado ela atingiu uma qualidade de vida que antes pensava ser apenas possível através da perda de peso.
Psicanalista Ana Suruagy Botto