Buraco
Pessoas são felizes.
Nasceram assim, foram
geradas e nutridas com amor.
Aprenderam a confiar em si
e nos outros.
Solidão?
São momentos de paz,
ou um incômodo logo resolvido:
buscam companhia, acabou-se o problema.
Outras pessoas, ai!
Estão sós desde a barriga da mãe,
desde o seio.
Seio que vertia rejeição, desprezo,
desamor.
Ah, essa pessoa não sabe como,
quanto ou o que vale.
Sabe amar, sim, prodigamente,
como se mendigasse em troca
um pouco de amor.
Como a pedinte que sorri
para ganhar uma moeda.
Mas sente-se desamada
até o mais íntimo
de todas as suas células.
Aí está a maldição,
a falta de lógica:
desejar o que jamais conheceu.
Vive como se estivesse no início do mundo e fosse
um Adão sem Eva.
Não, Deus não vai ajudar!
Nasceu só, vai morrer só.
E a morte acompanha cada dia
em que anseia e espera o que sabe
que jamais terá.