Bipolar
Sou assim: um ser em mutação constante,
uma surpresa a cada instante.
Não sei quem sou, nem saberei jamais.
Quem, olhando a constância do mar,
viu, alguma vez, uma vaga igual a outra?
Assim me vejo: como o mar,
sempre igual e sempre diferente,
imprevisível,
caleidoscópica.
O amor, a ternura, a dedicação,
a solidariedade,
podem dar lugar ao ódio cego,
à fúria, à crueldade.
Algumas horas, estou sempre aí.
outras, não estou nem aí.
Cultivo-me esmeradamente
com o mesmo empenho que me destruo.
Agora amo a vida, mas, daqui a pouco,
não sei mas o que faço por essas bandas-
que o digam o meu riso ruidoso
e meu pranto silencioso,
mas constante.
É isso aí: sou constante
até na inconstância.
Para onde irá a energia que me move?
De onde vim, para onde vou?
Imagino o que sobrar de mim-
se é que algo sobrará-
habitando outros mundos.
Este, definitivamente,
não quero mais, cansei!
Em compensação, não me vejo
tocando harpa eternamente.
Aí, morrerei de tédio!