Tons e Semi-Tons
Sinto uma gama de emoções,
cada uma com o seu próprio colorido,
que transformam minha vida
em palheta de pintor.
A primeira e maior é o amor.
E o amor é azul, azul como o mar,
profundo, amigo, complexo,
repleto de tesouros e belezas.
Um mar que acolhe e protege,
que possui e envolve
como se eu fosse, e sou, um ser-do-mar.
A segunda é a culpa e essa é negra.
Negra como a noite, como a tempestade.
Sabe a horror, a medo, a destruição.
É um negror de ameaça e morte,
onde não existe refúgio ou perdão.
Depois, chegam emoções que variam,
em intensidade, com o momento.
A saudade é em tons de violeta.
Às vezes aproxima-se do azul,
quando estás prestes a partir,
mas ainda estás comigo.
Outras vezes é roxa e grave como o luto.
Lembra semana-santa, cemitério, missa de sétimo dia.
É uma emoção molhada,
banhada em lágrimas.
O desejo é em tons de vermelho.
Às vezes lembra sangue, vida, ardor,
outras vezes é um rosa pálido.Tem o poder
de colorir o mar azul e torná-lo rubro
como o nascer do sol.
O carinho é verde, claro ou escuro.
Varia com a hora e com a expressão
ou repressão.
Mas, como a natureza, é tranqüilidade e vida.
Associado ao azul, torna-o mais leve,
é o verde-água, o verde-paz.
Mas pode associar-se ao negro
e esmaecer as formas da natureza,
transformá-las em sombras, em fantasmas.
Vivo, assim, um mundo colorido
pelas tuas mãos.
Onde não faltam os toques amarelos
do ciúme,
o cinza da rejeição,
o incolor da esperança.
Eu, que era uma tela em branco,
sou agora uma obra-prima
surrealista.