Tudo ou Nada
Marta era uma profissional reconhecida e respeitada em sua especialidade.
Chega para a primeira consulta e diz: “Não sei se sei o que sei”.
Fora indicada para mais um curso de especialização, que lhe traria novos títulos, mais prestígio público, todos frutos de luta muito árdua e competência. Mas, no fundo, não reconhecia o seu valor. Nas fases de desafio intelectual, nada mais existia, o gasto de tempo e energia era enorme, afastava-se do mundo e mergulhava em uma busca jamais satisfeita de perfeição. Sentia-se como se fosse uma estranha na qual não confiava e de quem tinha medo, muito medo.
O que significa o auto-reconhecimento e usufruto de um saber que se adquire com tanto empenho e mérito?
Marta superou sua dificuldade. Descobriu a escravidão inconsciente do tudo ou nada, que significa: ou sei tudo de tudo para sempre ou nada de nada, para sempre. Como reconheço que não sei tudo de tudo, então não sei nem saberei jamais nada de nada.
Marta descobriu que sabe o que sabe, nem mais nem menos. Sabe que não sabe tudo, mas
sabe muito mais que nada. E sabe o bastante para enfrentar a luta pelo saber mais.
Livrou-se do “plus” inútil e sofrido de sentir-se, a cada passo, como se ele fosse o primeiro.
E conseguiu adicionar o saber intelectual aos outros saberes e usufrutos da vida.
Empenhou-se em sua terapia como um mergulhador que procura conhecer as belezas e riscos do fundo do mar. Reviu sua infância, sua inferioridade frente os irmãos, que foram transferidos para todos os desafios ao longo da vida. Livrou-se do sentimento de rejeição frente a pais que só a aceitariam se ela fosse a melhor.
Após o mergulho, colocou os pés firmemente na superfície. Era dona de seus desafios e metas. Podia aliar trabalho, diversão, prazer, descanso e toda a complexidade que constitui a existência humana.
Psicologa Simone Mello Suruagy