Características da ADD
Neste capítulo, iremos tentar dar uma noção para o leitor sobre o que é a ADD, como se manifesta, como diagnosticar e o que sabemos sobre o problema atualmente.
Epidemiologia
O índice de crianças com ADD na população média dos Estados Unidos é de 3% a 5%, no Brasil, pesquisas semelhantes chegaram à valores entre 3 e 6% enquanto na Grã-Bretanha este número é estimado entre 1 e 2%. Esta diferença leva alguns médicos europeus à criticarem os seus colegas do Novo Mundo dizendo que estes tendem a rotular crianças com ADD em quantidade muito maior do realmente seria o correto. Até o presente momento não se sabe se esta acusação é justificada, se a causa seria outra como uma cultura mais aberta à este tipo de comportamento, ou ainda se o correto seria o contrário, ou seja que os europeus estariam evitando dar diagnósticos corretos de sobre o ADD.
Características Clínica
A ADD é caracterizada por uma série de sintomas nem sempre claros e facilmente distinguíveis de outras patologias psiquiátricas (nos seus casos mais graves) ou da normalidade (nos casos mais leves). De uma forma geral, pessoas com este transtorno tende à apresentar alguns problemas como:
Dificuldade de atenção e concentração
Problemas de aprendizado
Distúrbios do Comportamento
Instabilidade e Hiperatividade
Distúrbios Motores
Retardos da fala
Dificuldade de atenção e concentração
Talvez o fator que mais caracteriza da ADD é a falta de capacidade do indivíduo se concentrar e prestar atenção no que está sendo apresentado à ele sem se distrair com qualquer outro estímulo. Aparentemente a pessoa com ADD sente uma necessidade extrema de prestar atenção em estímulos novos e muitas vezes irrelevantes. Pessoas com ADD passam a impressão que nunca conseguem completar nenhuma tarefa iniciada, pois assim que começam uma nova empreitada facilmente se distraem e passam a fazer outra coisa e assim sucessivamente deixando um rol de tarefas incompletas assim que elas vão passando de uma para outra. Estas pessoas também apresentam uma dificuldade de memorizar coisas e se lembrar de compromissos, encontros, onde deixou certos objetos (como chaves).
Esta falta de atenção leva muitas vezes a problemas profissionais devido a falta de produtividade e também a problemas de relacionamento pois a falta de atenção causa a impressão em outras pessoas de que elas são sem importância.
O indivíduo com ADD costuma a apresentar problemas com o aprendizado seja através da dificuldade em prestar atenção e manter a concentração como já foi mencionado ou por outros problemas como a Dislexia, Disgrafia e Discalculia além de problemas sociais no ambiente escolar por causa dos problemas de comportamentos e isolamento social conseqüente.
Freqüentemente estas dificuldades acabam levando a pessoa a assumir uma atitude negativa perante o estudo e à escola devido as dificuldades que encontra. A falta de compreensão do círculo social do indivíduo com ADD leva a uma condição onde a pessoa passa a ser acusada de preguiçosa, burra, etc. o que só piora ainda mais a situação abrindo caminho para comportamentos patológicos e anti-sociais.
Muitas vezes estes problemas podem ser compensados ou pela vontade do indivíduo ou pela atitude perante o problema das instituições de ensino. O indivíduo muitas vezes, até mesmo sem perceber, desenvolve técnicas para poder superar as suas deficiências. Entre estas técnicas estão o uso de acessórios de estudo coloridos e chamativos para não dispersar a atenção com outros estímulos, uso de lembretes, chaves coloridas, etc. Em relação as instituições de ensino, muitas delas estão desenvolvendo salas de aula especialmente planejadas para estes alunos e programas especiais para o reforço do estudo. As salas de aula para pessoas com ADD são projetadas de forma a ter o menor número possível de estímulos distrativos e os programas especiais tentam sanar as deficiências e dar suporte psicológico ao aluno com ADD.
Quando falamos de ADD é muito difícil separar os problemas comportamentais primários dos secundários. O indivíduo com ADD tende a exibir um comportamento irrequieto que faz com que as pessoas à sua volta o tratem de uma forma diferenciada. Na maioria das vezes esta diferenciação é negativa, se manifestando através da exclusão social do indivíduo por causa da sua inabilidade de se manter quieto, de praticar esportes ou a sua tendência de quebrar coisas.
Muitas vezes os indivíduos com ADD têm a tendência de se sentir excluído, pois o seu comportamento leva outras pessoas a lhe chamarem de preguiçoso, problemático, estranho e até mesmo louco. Este tipo de exclusão vai levar o indivíduo a desenvolver problemas psicológicos que podem seguir duas direções opostas dependendo da estrutura pessoal do indivíduo: A introversão ou o comportamento anti-social.
A introversão ocorre quando o indivíduo resolve se submeter as regras que lhe são impostas, escondendo o seu verdadeiro comportamento, se separando das relações sociais por ser achar demasiadamente incompetente para tal coisa e muitas vezes acaba entrando em depressão por sentir que não é aceito pelo seu jeito de ser.
O comportamento exibicionista pode aparecer quando o indivíduo mostra a sua ira através de agressividade. Este tipo de comportamento tende a ser o principal motivo pelo qual os pais acabam levando a criança para uma consulta com um especialista de saúde mental.
Não são raros também os casos de comportamento anti-sociais ligados ao ADD como vício em drogas (causado pela vontade de resolver o problema), alcoolismo, destrutividade, agressões sexuais, etc... Este tipo de comportamento tende a ocorrer quando o ADD não é diagnosticado e tratado a tempo, pois é uma forma do paciente expressar a sua desesperança com o seu problema, acreditando que nada pode ser feito para resolve-lo, ele resolve mostrar a sua desesperança com este tipo de comportamento. Embora não conseguimos achar trabalhos sobre o assunto não é difícil levantar uma hipótese de um número maior de suicídios entre pessoas com ADD do que em pessoas normais, tamanha é a dificuldade que estes pacientes encontram em se adaptar à vida social.
Pessoas e especialmente crianças com ADD apresentam distúrbios como a incordenação e a hiperatividade.
A incordenação se manifesta através de dificuldades ou atraso em atividade como andar de bicicleta, amarrar os sapatos e escrever (Allen, J. E. - 1977 p.249). Pode se manifestar também pelo jeito desajeitado que a criança mostra ao interagir com o mundo, ou "clumsiness" como este comportamento é expressado na língua inglesa. Alguns autores fazem uma comparação deste comportamento afirmando que ele se aparenta à aquele que supostamente seria exibido por um "King Kong" tal é o modo grosseiro e desajeitados destes movimentos. "Os objetos ao seu redor correm permanente perigo: as pontas dos lápis, os copos, os botões das camisas, as cadeiras que são colocadas à prova quando sobre elas se atiram para sentar, os brinquedos, o aparelho de TV, enfim, tudo que esteja ao seu alcance" (Lefreve, A.B - 1978-p.798).
A hiperatividade se apresenta através da dificuldade do indivíduo em controlar os seus movimentos. O indivíduo é incapaz de ficar mais do que alguns segundos parados sem realizar um movimento inútil. Mesmo quando as condições exigem ele não é capaz de ficar parado, quando por exemplo esta pessoa tem que ficar sentada, ela começa a apresentar movimentos nos membros. A hiperatividade se apresentada na grande maioria dos casos de ADD embora, em alguns casos, este problema pode não estar presente, dando uma subdivisão de ADD sem hiperatividade que será estudada no item 3.1 ainda neste capítulo.
Estes distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas de professores e pessoas em geral que lidam com o indivíduo com ADD. Um dado interessante é que os pais parecem se tornar acostumados com estes distúrbios nos seus filhos, pois dados levantados por Lefevre apontavam que embora só uma pequena parcela dos pais se queixassem da hiperatividade dos seus filhos (cerca de 15%), os exames clínicos posteriores demonstraram que quase cerca de 65% das crianças estudadas apresentavam hiperatividade.
Os indivíduo com ADD apresentam em alguns casos retardos na fala que pode se apresentar em 3 tipos diferentes, por ordem de freqüência: 1-Retardo da aquisição, 2- Dislalias, 3 - Distúrbios de Ritmo.
Os retardos na aquisição se caracterizam pelo diferença apresentada pela criança entre o que seria esperado dela em termos de produção verbal em relações ao seu desenvolvimento neuropsicológico e o que realmente ela consegue produzir. Os testes de desenvolvimento psicomotor são apropriados para medir esta diferença, já que a criança apresenta uma discrepância entre o setor da fala e os demais. Não são raros casos de crianças com ADD que chegam à idade de alfabetização com a fala ainda não totalmente desenvolvida.
As dislalias, ou seja a troca de fonemas também pode ser apresentado por criança com ADD em uma idade muito superior ao que normalmente seria esperado. É importante salientar que este problema deve ser corrigido o mais cedo possível, pois com o tempo a criança pode acabar incorporando a dislalia como parte da sua linguagem normal, tornando a correção do problema muito mais difícil.
Os distúrbios de ritmo se apresentam através do "clutter", ou seja a falta de separação nítida entre uma palavra e outra tornando difícil a compreensão do que está sendo dito. Muitas vezes este problema é confundido por leigos como sendo uma espécie de gagueira, mas é importante diferenciar o diagnóstico para evitar problemas e facilitar o tratamento do problema.
O diagnóstico de ADD pode ser tornar traiçoeiro, especialmente para profissionais menos experientes, por isto recomendamos que os diagnósticos sejam feitos baseados nos seguintes critérios:
Histórico e anamnese detalhada:
Devido as suas manifestações no comportamento da criança e na dificuldade de se associar ADD com algum sintoma ou problema físico, o histórico do problema e a observação do comportamento da criança por outras pessoas do seu meio social como professores, babás, etc. são de vital importância para o diagnóstico do transtorno.
O histórico pode mostrar problemas com a atenção, dificuldade de aprendizado, problemas em se manter parado, etc. Podem também aparecer problemas relacionados à gravidez e ao parto já que a incidência deste problema em pessoas com ADD é substancialmente maior do que na população normal. Também podem aparecer dificuldades na coordenação motora, problemas em tarefas como abotoar a roupa, amarrar os sapatos, dificuldade em movimentos alternados rápidos. Assim como podem também aparecer déficits de linguagem, problemas com a fala e problemas psicológicos secundários como depressão agressão, baixa auto-estima assim como sentimentos de rejeição. Embora não se saiba a explicação, pais de pacientes com ADD tendem a ter um índice de separação no casamento maior do que na população em geral.
No caso do psicólogo, uma vez descartados outros problemas físicos que podem apresentar semelhanças com ADD o diagnóstico de pode ser realizado através de testes psicológicos como WISC, já que crianças com ADD tendem a apresentar uma diferença grande entre os testes de atenção e memória em relação à outros testes como de inteligência geral. A reprodução dos cubos é uma tarefa particularmente difícil . No desenho da figura humana a sua performance é inferior ao que se seria esperado por uma criança da sua idade por causa de problemas de atenção, localização espacial, desenvolvimento motor, etc.
No teste gestáltico de Bender, as figuras apresentam rotação, as relações espaciais não são nitidamente copiadas e a discriminação figura-fundo é pobre (CHESS, 1982). É comum a criança com ADD ter uma inteligência normal ou até acima da média e mesmo assim apresentar déficit escolar e dificuldades sociais ou de adaptação.
Exames Eletroencéfalográficos (EEG) podem mostrar alterações já que 50% da população com ADD apresenta problemas nestes exames enquanto só cerca de 10 a 15% da população normal apresenta problemas semelhantes.
Como meio de confirmação de diagnóstico, pode se verificar a resposta do indivíduo à estimulantes.
Além dos problemas psicológicos já mencionados, o ADD também pode estar associado à outros problemas neurológicos e psicológicos como S. Gilles de La Tourette, epilepsia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), problemas com drogas, comportamentos de alto risco e personalidade limítrofe (borderline).
Dificuldades encontradas no diagnóstico de ADD e soluções:
Muitas vezes, o diagnóstico da ADD é complicado pela dificuldade de diferenciação deste problema em relação a outros problemas físicos, psicológicos ou até a normalidade. Por este motivo é essencial que o diagnóstico seja feito por uma equipe multidisciplinar composta de médicos, psicólogos, pedagogos junto com um detalhado histórico da doença como já foi afirmado acima.
Em algumas culturas e em alguns grupos humanos pode existir uma Pseudo-ADD, ou seja comportamentos que se assemelham à aqueles apresentados com pessoas com ADD, mas causados não por fatores biológicos, mas sim culturais, ambientais ou sociais, por este motivo, acreditamos que é essencial para o profissional de saúde mental estarem informados e levarem em consideração fatores exógenos em seu diagnóstico.
Todos estes problemas podem ser resolvidos ou atenuados através da qualificação dos profissionais envolvidos no processo. Sensibilidade, técnica, conhecimento teórico e experiência são indispensáveis para que o profissional tenha condições de realizar um diagnóstico correto de ADD, especialmente naqueles casos mais complexos. Onde a linha divisória entre ADD e outros problemas ou a normalidade não é clara
O ADD devido à sua complexidade de sintomas pode ser muitas vezes difícil de diagnosticar como já falamos na parte sobre Diagnóstico deste texto. Muitas vezes o ADD pode aparecer sem alguns dos seus sintomas característicos e em outros casos podemos encontrar outras síndromes neurológicas e psiquiátricas que podem ser facilmente confundidas com ADD, ou ainda apenas comportamentos culturais que podem confundir o diagnóstico.
Embora o DSM-IV só cite 3 tipos de ADD, Tipo Predominantemente Desatento (314.00), Tipo predominantemente Hiperativos-Impulsivo (314.01) e Tipo Combinado (314.01); HALLOWELL et al.. sugere que na prática clínica outros tipos se manifestam e que é necessário que o especialista esteja atento a estes novos tipos de combinações entre ADD e outras condições para a realização correta deste diagnóstico. As classificações propostas por estes autores são:
ADD sem hiperatividade
ADD com ansiedade
ADD com depressão
ADD com outros problemas de aprendizado
ADD com agitação ou mania
ADD com drogadicção
ADD em pessoas criativas
ADD com comportamento de alto risco
ADD com estados dissociativos
ADD com características de personalidade limítrofe (borderline)
ADD com distúrbios de conduta (em crianças) ou características anti-sociais (em adultos)
ADD com Transtorno Obsessivo-Compulsivo
Pseudo-ADD
ADD sem hiperatividade
Um dos enganos mais freqüentes sobre ADD é que se a criança não apresenta comportamento hiperativos, automaticamente a possibilidade de ADD está descartada. Isto é mais freqüente ainda por causa do ADD ser conhecido pelo público leigo apenas como Hiperatividade.
Esta concepção de que ADD é sempre acompanhada de hiperatividade não é verdade, pois existem casos, especialmente no sexo feminino em que o ADD se manifesta através apenas da falta de atenção. São pessoas que tem uma característica sonhadora, que não são capazes de prestar atenção. Tem dificuldades em terminar tarefas já começadas e freqüentemente são taxadas de preguiçosas, desorganizadas ou não motivadas injustamente.
Um dos enganos mais freqüentes sobre ADD é que se a criança não apresenta comportamento hiperativos, automaticamente a possibilidade de ADD está descartada. Isto é mais freqüente ainda por causa do ADD ser conhecido pelo público leigo apenas como Hiperatividade.
Esta concepção de que ADD é sempre acompanhada de hiperatividade não é verdade, pois existem casos, especialmente no sexo feminino em que o ADD se manifesta através apenas da falta de atenção. São pessoas que tem uma característica sonhadora, que não são capazes de prestar atenção. Tem dificuldades em terminar tarefas já começadas e freqüentemente são taxadas de preguiçosas, desorganizadas ou não motivadas injustamente.
Devido ao esquecimento freqüente e dificuldade de organização é natural que pessoas com ADD sintam uma certa ansiedade em saber se não estão se esquecendo de alguma coisa. Mas este ansiedade natural pode acabar se tornando patológica. A pessoas com ADD pode começar a procurar algo para se preocupar durante o tempo todo. Passam a procurar sempre por alguma coisa que esqueceram, algum problema, etc. Acabam se tornando sempre preocupados com alguma coisa.
Como conseqüência do ADD, as pessoas portadoras deste tipo de problema são freqüentemente taxadas das mais diversas coisas e trazem consigo muitas vezes um históricos de muitas frustrações devido a esquecimentos, trabalhos não terminados, etc... Não é difícil de conceber em situações como esta possam levar logo à depressão.
Alguns pesquisadores acreditam que a depressão no ADD pode não ser apenas devido à fatores ambientais, mas sim devido a fatores fisiológicos combinados com o ADD, já que algumas das drogas usadas para tratar depressão são também eficazes para o tratamento de ADD.
Embora ainda não se saiba exatamente a causa da depressão no ADD, este fenômeno é de extrema importância no tratamento do problema, especialmente se para ponto de vista do psicólogo, pois freqüentemente este é chamado para tratar a depressão e tentar resolver problemas de ajustamento do paciente.
Conforme já foi mencionando anteriormente o ADD pode vir acompanhado de outros problemas de aprendizados:
Dislexia - É uma perturbação constitucional, primaria, geneticamente transmitida, dificuldade de adquirir a capacidade de leitura (Lefevre, 1982). A Dislexia se manifesta por dificuldade em trocas de letras com formatos parecidos (d b, p q, b q, etc.) ou sons parecidos (d,t,f,m,n, etc.), deficiências de percepção visual e auditiva. Em alguns casos, os pacientes não conseguem entender o conteúdo do texto, mas sim tentam "adivinhar" este conteúdo na tentativa de negar o problema.
Disgrafia - Dificuldade de escrita, manifesta como uma dificuldade motora na execução da escrita. A criança não consegue realizar os traços necessários para escrever corretamente, muitas vezes as letras fica ilegíveis e muitas professoras acusam o aluno de não ser caprichoso, gerando ainda mais problemas.
Discalculia - Problemas em realizar operações aritméticas e até a escrita de números como foi demonstrado em uma exemplo de LEFEVRE abaixo, quando foi pedido para a criança calcular 367+ 51 sua conta foi a seguinte:
30067
+ 51
----------
81067
Todos estes problemas levam à uma necessidade de cuidados especiais na educação da criança e de um preparo especial dos professores para que estes não acusem a criança de ter alguma problema, baixando ainda mais a sua auto-estima e causando problemas quanto a concepção que ela vai ter da escola. É necessário que estes professores compreendam antes de acusar.
Em alguns casos o ADD pode se assemelhar ao distúrbio bipolar e o inverso também pode conter no caso de um episódio de mania. A diferença esta na intensidade da crise, já que os episódio de mania tendem a ser muito mais intensos que os de ADD.
No entretanto, não é raro de acontecer de pessoas com ADD, especialmente em casos onde existem comportamentos muito energéticos, serem diagnosticado com distúrbio bipolar. A mudança de diagnóstico normalmente vem quando o paciente não mostra resposta à terapêutica utilizada no transtorno Bipolar, por o lítio não só não causa efeito em pessoas com ADD como pode em certos casos até piorar o problema e começa a mostrar melhoras quando Ritalina ou outro medicamento para ADD lhe é dado.
Um dos problemas mais sérios associados ao ADD é o abuso de drogas. Este problema quando encontrado por um profissional de saúde mental deve ser estudado para se verificar qual é a real causa dele já que cerca de 15% dos usuários de cocaína por exemplo relatam que o uso da droga não os deixa "altos" mas sim os ajudam a concentrar e focalizar melhor a sua atenção. São estes 15% que HALLOWELL et al. et. Al. sugere que devem possuir ADD e que buscam na cocaína uma saída para o seu problema. O álcool, a maconha e outras drogas também são usadas. Isto acontece por vários motivos, entre os principais estão a busca por uma forma de fugir do problema e suas conseqüência, especialmente quando parece não haver saída e a auto-medicação, já que tanto a cocaína como a Ritalina são estimulantes e freqüentemente o uso de cocaína causa um efeito positivo na capacidade de concentração e na diminuição dos problemas associados ao ADD.
Quando uma pessoa é diagnosticada com drogadicção associada e causada por um possível quadro de ADD é necessário que os dois problemas sejam tratados juntos, pois o tratamento do ADD quando este é a causa do vício pode em muitos casos evitar com que estes pacientes voltem a procurar a droga depois de obterem alta do tratamento.
Uma das características positivas em ADD é a capacidade criativa que normalmente está presente junto com o problema. Devido a sua capacidade de não conseguir manter as idéias em ordem, pessoas com ADD tendem a ser muito criativas e muitas vezes é em ramos onde a criatividade é importante que estas pessoas acabam encontrando um trabalho que conseguem fazer bem.
Uma das características curiosas do ADD é que algumas vezes quando os pacientes encontram o ambiente e a tarefa certo para estimulá-los eles pode acabar demonstrando uma característica contrária à aquela normalmente associada ao ADD, ou seja, ao invés da desatenção, podem demonstrar uma concentração e uma dedicação bastante intensa.
Além da medicação o uso de pessoas com ADD em áreas criativas como em Publicidade, Artes, Design, Projetos, etc... pode ser uma forma de conseguir integrar estes pacientes ao meio social.
A incapacidade de se manter estável e a necessidade de busca por novas emoções podem levar uma pessoas com ADD, especialmente na adolescência e vida adulta a demonstrar comportamentos de alto risco. HALLOWELL et. Al. sugere uma lista de comportamentos que podem indicar ADD em adultos:
Qualquer comportamento de alto risco em níveis crônicos
Tipo "A" de personalidade, ou seja pessoas com uma forma de vida intensa, propensas à atividades estressantes e com um modo de vida onde a agitação e a necessidade por novas emoções tá sempre presente.
Personalidade com a constante busca de fortes emoções
Comportamentos ligados a vícios
Temperamento explosivo
Vício em exercícios
Impaciência
Jogatina
Comportamentos violentos
Tendência a sofrer acidentes
Histórico de vários relacionamentos amorosos extra-conjugais e de alto risco
Comportamento pródigo
Outros problemas de controle de impulsos como cleptomania e piromania
Ainda não se sabe como comportamentos de alto risco são tão atrativos para pessoas com ADD, mas estes comportamentos são de importância para o profissional de saúde mental, pois não só prejudicam e põe em risco a vida do indivíduo como também o tratamento destes problemas com terapia sem a resolução do problema biológico causador destes comportamentos acaba se tornam inútil.
Um das principais característica de ADD é a falta de atenção. No entretanto muitas vezes é difícil se ter certeza de que o ADD é mesmo a causa deste tipo de comportamento, pois outros problemas também apresentam a distração como sintomas. Só para exemplificar poderíamos citar a lista abaixo:
ADD
Depressão
Estados ansiosos
Uso de drogas ou abstinência
Estresse
Cafeinismo
Falta de sono, fadiga
Transtornos Dissociativos
Os estados dissociativos fazem com que a pessoa corte os vínculos com um episódio traumático que aconteceu com ela para evitar o sofrimento e a dor psicológica relacionadas com a lembrança de tal evento.
Para o diagnóstico diferencial entre a ADD e estados dissociativos, o histórico completo e detalhado do paciente é fundamental. É necessário saber se o paciente não passou por nenhum trauma, já que muitas vezes estados dissociativos ligados a traumas podem se assemelhar à distração do ADD. Outra saída para se tentar decidir por um ou outro diagnóstico é a busca por sintomas de ADD no histórico desta pessoa, desde a infância, pois mesmo que a pessoa não tenha sido diagnosticada com ADD, ao contrário do que ocorre nos estados dissociativos, ela se lembra do que ocorreu com ela, só não sabendo que existe uma causa para os problemas dela.
Pessoas com personalidade limítrofe costumam a apresentar uma série de sintomas muito parecidos com o ADD e vice-versa. Estes sintomas podem ser a instabilidade de humor, impulsividade, uso de drogas, problemas de relacionamentos, problemas de performance em tarefas que lhe são dadas, etc... Infelizmente ainda não temos condições de delimitar claramente quais são as diferenças entre estes dois problemas. Por este motivo é que se torna importante para os profissionais estarem atentos quando diagnosticarem uma pessoa com personalidade limítrofe, verificarem se existem características típicas do ADD de forma a evitar enganos.
Os problemas de conduta, são comportamentos que ocorrem em algumas crianças caracterizados por comportamentos agressivo, dificuldade de convivência com regras e sociedade. Embora já há evidências de uma genética deste problema, é importante lembrar que crianças com este problema normalmente apresentam uma história comum, procedendo de famílias com sérios problemas como pais ausentes, abusivos, uso de drogas, pobreza, falta de educação, comida, etc.
Estes comportamentos podem ser facilmente confundidos com a hiperatividade presente no ADD, e freqüentemente isto acaba acontecendo. É importante para os profissionais estarem atentos a pequenos diferenças existente entre os dois problemas. Uma criança com ADD quando tem um problema pode ficar frustrada, porém uma criança com problemas de conduta procura imediatamente alguém para culpar pelo seu problema. As explosões emocionais de crianças com ADD tendem a ser impulsivas e espontâneas enquanto a de uma criança com problemas de conduta tendem a ser planejados, esperando por algum ataque ou insulto externo para acontecer. Além disso crianças com distúrbio de conduta não apresentam os problemas de atenção e concentração das crianças com ADD.
No caso dos adultos, muitos casos de Personalidade Anti-social são na verdade casos de ADD mal diagnosticado. Assim como já foi enfatizado durante todo estes texto, torna-se importante mais uma vez consultar o histórico da doença para verificar se existem sintomas típicos de ADD associados ao histórico do indivíduo para não se cometer erros e mandar casos perfeitamente tratáveis para prisões ou hospitais psiquiátricos.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo, caracterizado pela repetição de rituais, comportamento repetitivo, pensamento repetitivo e outros sintomas, pode estar conjugado com o ADD. Ambos os problemas tem origem biológica e no caso de ambos estarem presentes na mesma pessoa, o transtorno que se manifestar da forma mais grave tende a encobrir o que se manifesta de forma mais leve, então é importante estar atento para os sintomas de ambos os problemas quando se trata uma pessoa com ADD.
Muitas vezes comportamentos influenciados pela cultura de um determinado povo ou de um grupo pode ser confundido com aqueles apresentados por pessoas com ADD. Um ambiente que exerce muita pressão sobre um sujeito pode muitas vezes induzir comportamentos como falta de atenção, hiperatividade, incapacidade de concluir tarefas já começadas, etc.
Cuidados devem ser tomados para não diagnosticar todo executivo atarefado como tendo ADD. É necessário lembrar que o ADD é um problema que aparece desde a primeira infância e que muitas vezes todos nós acabamos apresentando sintomas de ADD de vez em quando especialmente em situações de estresse ou de agitação por algum evento.
Embora o conhecimento sobre as causas do ADD ainda seja muito limitado e grande parte dele é especulativo, algumas descobertas recentes ajudaram os pesquisadores a levantar algumas hipóteses para o surgimento do ADD. As hipóteses mais estudadas são: Genética e Traumatismos e problemas intra-uterinos.
Genética:
Devido a grande probabilidade de uma pessoa com ADD ser proveniente de uma família com um histórico de problemas psiquiátricos e neurológicos, como o próprio ADD, alcoolismo, Gilles de la Tourette, dislexia, etc. Somado ao fato de que hoje muitos acreditam que a causa esteja ligada à falta de certos componentes necessários para o uso correto de alguns neurotransmissores, e levando em conta a diferença existente na proporção da incidência relacionada ao sexo. Tudo isto leva os pesquisadores a considerar fatores genéticos como sendo a causa do ADD. Por esta hipótese o ADD não seria causado por um gene particular, mas sim por uma união entre vários genes. Exatamente quais genes estão envolvidos no processo e como estes genes levam ao ADD ainda não foi descoberto, embora a velocidade das pesquisas em biologia molecular indiquem que não haverá muita demora para que estas questões serem respondidas.
Traumatismos neonatais e problemas intra-uterinos:
Embora a hipótese genética possa fornecer algumas respostas sobre a causa do ADD, é sabido que a ocorrência de ADD está muitas vezes correlacionadas à problemas durante a gravidez e no parto, inclusive com relatos de traumatismos neonatais. Este fato levanta a dúvida se realmente haveria apenas uma causa para a ADD, pois aparentemente não deveria haver uma relação entre a genética do ADD e estes problemas.
Alguns autores propõe que o ADD na verdade poderia ser devido a causas multifatoriais onde a genética e o ambiente colaborariam para a gênese do problema.
Outros fatores:
Assim como sempre acontece quando a ciência não consegue dar uma respostas imediata para a causa de um problema, no caso do ADD já surgiram inúmeras hipóteses e teorias de procedência duvidosa e de difícil comprovação. Citaremos algumas como informação ao leitor:
Alimentação:
Algumas pesquisas tentaram ligar o ADD com o consumo de alguns alimentos, porém até o presente momento o mecanismo pelo qual estes alimentos prejudicariam ou causariam o ADD não foram demonstrados e conseqüentemente nada foi provado.
Produtos químicos:
Especulações sobre a influência de alguns produtos químicos normalmente utilizados no ambiente doméstico foram levantados. Esta hipótese sugeria que produtos como desinfetantes, ceras, removedores, detergentes, etc. poderiam causar danos aos fetos. O fato apresentado à favor desta teoria é de que houve um aumento nos casos de ADD nas últimas décadas coincidindo com o aumento do uso destes produtos no ambiente doméstico. Além de não haver bases teóricas sobre como estes produtos poderiam causar ADD, a explicação para o aumento de casos tem muito mais possibilidade de ser devido ao avanço da Psicologia e Medicina que possibilitaram um diagnóstico mais preciso do problema do que de outros fatores
Explicações místicas e de difícil comprovação:
Alem das hipóteses levantadas até agora sobre ADD existem pessoas que acreditam que problemas como o ADD é causado por possessões demoníacas, abduções por extraterrestres, problemas espirituais etc. Embora nenhuma destas hipóteses tenha o mínimo de fundamento científico, achamos importante que o profissional de saúde mental esteja preparado para lidar com as expectativas do paciente e dos pais destes, quando se tratar de uma criança, para o diagnóstico baseado em causas místicas.
Mecanismos biológicos do ADD:
Embora ainda não se saiba exatamente quais são os mecanismos biológicos do ADD, algumas hipóteses estão sendo estudadas e algumas partes anatômicas do cérebro já estão sendo relacionadas com o ADD.
Uma destas áreas é o tálamo. Pelo nosso presente conhecimento de Neurociências, o tálamo parece ser uma espécie de filtro dos estímulos vindo de todo o sistema nervoso periférico. Seria o tálamo que escolheria quais estímulos deveriam prosseguir até o córtex cerebral para serem processados e quais estímulos deveriam se inibidos por interferirem com a atividade cortical que estaria ocorrendo naquele momento.
Para facilitar o entendimento, vamos dar um exemplo de uma pessoa dirigindo um carro em uma estrada. A principal atividade do cérebro naquele momento é prestar atenção na condução do carro e na estrada. Ao mesmo tempo que está dirigindo o sistema nervoso periférico do motorista está mandando uma grande quantidade de informações e estímulos para ele (temperatura do ambiente, sons do rádio, sede, fome, visão, etc..). A função do tálamo seria de filtrar os estímulos de forma que só os estímulos relevantes para a tarefa de dirigir passassem para o córtex, que neste caso seriam a visão, as sensações táteis das mãos, pés e talvez algum som. Este é o mecanismo que nós chamamos de atenção e que segundo alguns autores existe para evitar que o nosso cérebro não fique sobrecarregado pelos estímulos recebidos do nosso corpo.
Outra área que parece estar envolvida com o ADD é o lobo frontal do cérebro. É nesta área que a maioria dos nosso pensamentos ocorre e é o lobo frontal também que origina os impulsos que vão dar origem aos movimentos. É nesta área que também funciona um controle sobre quais movimentos deve ser feitos e quais devem ser evitados, este processo é chamado de atividade inibitória. Por exemplo:
"Ao pegar uma assadeira quente no forno, a reação natural do nosso sistema motor, é de deixar ela cair para evitar queimar as nossas mãos. Nós podemos evitar este reflexo através do nosso lobo frontal que pode emitir sinais inibindo o reflexo de largar a assadeira até que possamos colocar ela em um local onde o nosso reflexo de soltá-la não cause um pequeno desastre doméstico."
Pelo nosso atual conhecimento de ADD e de funcionamento cerebral, o ADD aparentemente é causado por uma deficiência no sistema cerebral, em especial nos sistemas relacionados a um neurotransmissor chamado de Dopamina que entre outras coisas está também envolvida no Mal de Parkinson. A deficiência neste sistema aparentemente faz com que o tálamo não consiga desempenhar a sua tarefa de filtragem de estímulos muito bem, levando à falta de atenção a fácil distração do ADD. Este problema também parece causar problemas no lobo frontal onde a atividade inibitória dos impulsos motores parece também ser afetada, levando segundo alguns autores, à hiperatividade.
Acredita-se que estimulantes como o metilfenidato utilizada em pessoas com ADD faz com que o tálamo e a atividade inibitória motora possam compensar os efeitos dos problemas causados pela ADD, voltando a funcionar normalmente.